acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao
mundo e maior amor ao coração dos homens."
Fernando Pessoa, em "O Eu Profundo"
Always With Me
Somewhere, a voice calls,
in the depths of my heart
May I always be dreaming,
the dreams that move my heart
So many tears of sadness,
uncountable through and through
I know on the other side of them I'll find you
Everytime we fall down to the ground
we look up to the blue sky above
We wake to it's blueness, as for the first time
Though the road is long and lonely
and the end far away, out of sight
I can with these two arms embrace the light
As I bid farewell my heart stops, in tenderness I feel
My silent empty body begins to listen to what is real
The wonder of living, the wonder of dying
The wind, town, and flowers, we all dance one unity
Somewhere a voice calls in the depths of my heart
keep dreaming your dreams, don't ever let them part
Why speak of all your sadness
or of life's painfull woes
Instead let the same lips sing a gentle song for you
The whispering voice, we never want to forget,
in each passing memory always there to guide you
When a miror has been broken,
shattered pieces scattered on the ground
Glimpses of new life, reflected all around
Window of beginning, stillness, new light of the dawn
Let my silent, empty body be filled and reborn
No need to search outside, nor sail across the sea
Cause here shining inside me,
it's right here inside me
I've found a brightness, it's always with me
Yumi Kimura
in Spirited Away ou A Viagem de Chihiro
Dormi contigo toda a noite
junto ao mar, na ilha.
Eras doce e selvagem entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
O teu sono separou-se
talvez do meu
e andava à minha procura
pelo mar escuro
como dantes,
quando ainda não existias,
quando sem te avistar
naveguei a teu lado
e os teus olhos buscavam
o que agora
- pão, vinho, amor e cólera -
te dou às mãos cheias,
porque tu és a taça
que esperava os dons da minha vida.
Dormi contigo
toda a noite enquanto
a terra escura gira
com os vivos e os mortos,
e ao acordar de repente
no meio da sombra
o meu braço cingia a tua cintura.
Nem a noite nem o sono
puderam separar-nos.
Dormi contigo
e, ao acordar, tua boca,
saída do teu sono,
trouxe-me o sabor da terra,
da água do mar, das algas,
do âmago da tua vida,
e recebi teu beijo,
molhado pela aurora,
como se me viesse
do mar que nos cerca.
Só te pedi que mergulhasses comigo,
que me levasses a mergulhar, só uma vez.
Naquele dia, agarrei-me toda à bainha da tua pele, ensopada. Eu sabia que era só uma questão de tempo mas eu não tinha muito e sempre fui ansiosa. O puto andava aos canivetes, latindo num corropio, já não podias com ele, interrompia-te, rasgava-te a sombra. A maré estava cheia, a praia estava cheia, os barcos cheios na lota, mas eu não me importava com nada, para mim só existia eu naquele dia, eu e o mergulho, o mergulho, vá lá, o mergulho, só um mergulho, o mergulho que te pedi. Todo o dia nisto. "Larga-me, rapaz", dizias ao puto, e eu apertava com mais força, o puto arfava e eu apertava com mais força, com a vida toda, com a mão toda a abocanhar-te a cintura, leva-me contigo, leva-me, leva-me…
Mas tu foste. Foste sem o puto. Foste sem mim. Arremessaste o meu sonho contra as gaivotas como quem diz “mais vale ires com os pássaros, o mar não é para ti”, e foste. Nunca mais voltaste. Não olhaste para trás, como nos filmes, nem procuraste por nós quando a praia ficou deserta, quando a maré vazou e os barcos desovaram. Foste. Foste todo de uma vez, como um balão que implodisse, engolido por um abismo de ar. Eu sabia. Sabia que se te largasse a flanela te sumirias para sempre. Vi a expressão roxa do sal a consumir-te aos solavancos, como se o mar inteiro fosse um tractor que te arrastasse pelos cabelos, fazendo espuma da minha raiva. Raiva por me teres deixado em terra, por me teres largado aos pássaros, por nunca antes um mergulho contigo poder ter sido quase e naquele dia tão pouco. Eu sei que voltarás para cumprir a promessa que não me chegaste a fazer mas que o mar te fará cumprir. Só te pedi que mergulhasses comigo, que me levasses a mergulhar, só uma vez. Só um mergulho. Um só. O único que te pedi. As gaivotas agoiram-me na praia mas eu já não lhes dou conversa. O puto fez-se aos pesacadores e já não mora cá. Eu fico à tua espera. O mar é justo, ele há-de lembrar-se de mim. Havemos de mergulhar, eu sei que sim. Saímos de ti, a ti voltaremos. É tudo uma questão de tempo.
Enquanto não chegam as fotografias das viagens – porque tão cedo não as conseguirei organizar, porque tão cedo não deixará de ser já muito tarde antes de me pôr a caminho e porque tão cedo não vislumbro querer saber de ter ou não ter tempo – vou viajando por mim adentro, que é o que se deve fazer quando se está a caminho de algum lugar, de regresso ou de partida. Obrigada.
"Repertório popular tradicional e elementos da música eletroacústica. Criação de atmosferas em torno do afrobrasileiro. Raio X de canções memoráveis. Coco, Baião de Princesas, reisado em investigações contemporâneas. Música tradicional e tecnologia."
Julio de Paula
Nesta vida não há certezas
Não pode haver
Minha alma perdeu de vista
A estrela guia
Se já viajei ao futuro
Se o mundo já me deu voltas
Não creio mais em linhas rectas
Tudo é espiral
Tudo é eterno
Amor é encontro
E desapego
Não temo perder o chão
Porque nele não creio
Hoje
Sou anti-geografia
Agosto 2005
Ponho o pé na estrada. Ponho o pé na vida. O meu caminho é a vontade de caminhar. A toda a hora acabei de pousar as malas que acabei por não desfazer. Anda sempre aqui comigo um fervedouro, um formigueiro, uma espécie de inquietação dentro. Imaginar que o mundo é grande demais para uma vida só dá-me falta de ar.
Estou de partida para norte, – espero reconhecê-lo um dia – algures para um ninho de antanho, na Serra do Montemuro. Mando notícias de lá. Ou então só quando já estiver a cartografar na pele o próximo mapa, de regresso a casa. Porque eu deixo sempre uma casa para onde regressar. Desafiar a liberdade, sim, mas em mergulho profissional!
Diz-me a enciclopédia que existem três tipos de mergulho, o mergulho livre – em apnéia – o mergulho autónomo – onde se usa um cilindro com ar comprimido ou outra mistura gasosa – e o mergulho dependente – onde a alimentação de ar se mantém na superfície.
Pois eu, que sempre quis fazer mergulho e nunca me deixaram por causa da falta de ar, pratico mergulho dependente quando viajo. A minha casa alimenta-me. A minha casa são os meus pulmões. Estou sempre a ir, mas nunca me afasto muito. E se tenho falta de ar é porque sou demasiado ansiosa.
Diz-me outra vez a enciclopédia que a asma é uma doença que se caracteriza por crises de falta de ar, ocorrendo dificuldade na entrada de ar nos pulmões e, principalmente, na sua saída. Digo eu, a causa é essa - exactamente - a ansiedade. Como quero sempre tudo-muito-agora, absorvo demasiado ar. A asma é só um desafio no processo da minha viagem, uma tendência que tenho de aprender a controlar.
Faço as malas e penso para comigo: “Tenho de ir atrás de mim, aonde eu estiver.” Fiz este pacto contigo quando te reconheci - porque a alma-gémea a gente não encontra, a gente reconhece! - “ir sempre atrás de mim aonde eu estiver.” E então vou. E vou sempre para sempre, mas sempre por pouco tempo.