Ponho o pé na estrada. Ponho o pé na vida. O meu caminho é a vontade de caminhar. A toda a hora acabei de pousar as malas que acabei por não desfazer. Anda sempre aqui comigo um fervedouro, um formigueiro, uma espécie de inquietação dentro. Imaginar que o mundo é grande demais para uma vida só dá-me falta de ar.
Estou de partida para norte, – espero reconhecê-lo um dia – algures para um ninho de antanho, na Serra do Montemuro. Mando notícias de lá. Ou então só quando já estiver a cartografar na pele o próximo mapa, de regresso a casa. Porque eu deixo sempre uma casa para onde regressar. Desafiar a liberdade, sim, mas em mergulho profissional!
Diz-me a enciclopédia que existem três tipos de mergulho, o mergulho livre – em apnéia – o mergulho autónomo – onde se usa um cilindro com ar comprimido ou outra mistura gasosa – e o mergulho dependente – onde a alimentação de ar se mantém na superfície.
Pois eu, que sempre quis fazer mergulho e nunca me deixaram por causa da falta de ar, pratico mergulho dependente quando viajo. A minha casa alimenta-me. A minha casa são os meus pulmões. Estou sempre a ir, mas nunca me afasto muito. E se tenho falta de ar é porque sou demasiado ansiosa.
Diz-me outra vez a enciclopédia que a asma é uma doença que se caracteriza por crises de falta de ar, ocorrendo dificuldade na entrada de ar nos pulmões e, principalmente, na sua saída. Digo eu, a causa é essa - exactamente - a ansiedade. Como quero sempre tudo-muito-agora, absorvo demasiado ar. A asma é só um desafio no processo da minha viagem, uma tendência que tenho de aprender a controlar.
Faço as malas e penso para comigo: “Tenho de ir atrás de mim, aonde eu estiver.” Fiz este pacto contigo quando te reconheci - porque a alma-gémea a gente não encontra, a gente reconhece! - “ir sempre atrás de mim aonde eu estiver.” E então vou. E vou sempre para sempre, mas sempre por pouco tempo.

Sem comentários:
Enviar um comentário