sexta-feira

Cavalos-Marinhos


Quando era miúda lembro-me de sonhar com cavalos-marinhos.

Eu ainda não sabia o que eram, mas o Sérgio – um amigo da escola que tinha sempre as unhas sujas e sal no canto da boca, que morava na praia da Barroca, que era filho de pescador, que tinha o hábito de assustar as meninas com minhocas escondidas no estojo – um dia ofereceu-me um cavalo-marinho muito pequenino, todo seco. Veio ter comigo e disse-me assim: toma lá, é para ti, foi o meu pai que apanhou. Guardei-o com muito cuidado na mochila. O cheiro ainda lá ficou por muito tempo. A partir desse dia passei a sonhar frequentemente com cavalos-marinhos.



Quando fui a Cabo Verde vi estrelas-do-mar, daquelas fluorescentes (também as há), vermelho vivo! Em Cabo Verde o mar é soberano, é sem fim, sem descrição. Vi corais. Vi tartarugas a desovar, noite escura, à lua cheia. Mas não vi nenhum cavalo-marinho.

Eu sei que um dia ainda me hás-de levar a mergulhar. Fico à espera. Deixa recado se eu não responder, não desistas logo à primeira. Havemos de ir ver os tubarões e as baleias, as focas a deslizarem de costas; havemos de ir à Antárctica ver os glaciares e os pinguins. Eu espero. Eu acredito. Eu não tenho medo.
Quem é que quer o oceano sem o rugido terrível das águas?


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